terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Duas almas não se encontram por acaso




"Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui outra.
Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, mas não vai só
nem nos deixa sós.
Leva um pouco de nós mesmos,
deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito,
mas há os que não levam nada.
Essa é a maior responsabilidade de nossa vida,
e a prova de que duas almas
não se encontram ao acaso. "

(Antoine de Saint-Exupéry)

segunda-feira, 13 de julho de 2009




No lugar dos palácios desertos e em ruínas

Á beira do mar,

Leiamos, sorrindo, os segredos das sinas

De quem sabe amar.


Qualquer que ele seja, o destino daqueles

Que por amor levou

Para a sombra, ou na luz se fez a sombra deles,

Qualquer fosse o voo.


Por certo eles foram mais reais e felizes.

Alvaro de Campos - Fernando Pessoa


O novo livro de Miguel de Sousa Tavares inicia com este fabuloso poema de F. Pessoa. "No teu deserto" lê-se num sopro e este seu quase romance, como o anterior( Romance), não atingiu as minhas elevadas expectativas, mas é suave, tem a ternura e a sinceridade de um abrir de coração,( infelizmente) raro no sexo masculino. Apesar de corajosamente exposto, o auto peca, no meu modesto entendimento por querer dar sem se dar muito...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Tenta esquecer-me


Tenta esquecer-me...
Ser lembrado é como evocar
Um fantasma...
Deixa-me ser o que sou,
O que sempre fui,
um rio que vai fluindo...


Em vão, em minhas margens
cantarão as horas,
Me recamarei de estrelas
como um manto real,
Me bordarei de nuvens e de asas,
Às vezes virão a mim as crianças banhar-se...


Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar,
As imagens perdendo no caminho...
Deixa-me fluir, passar, cantar...
Toda a tristeza dos rios
É não poder parar!

Mário Quintana

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Anjo lindo



O André tem 10 anos e é o mais verdadeiro e o (meu) único azul do céu...

Nasceu num dia quente e brilhante de Verão, e no berçário da maternidade chamavam-lhe a estrelinha, já nessa altura exercia magia e puro marketing sobre quem estivesse em seu redor.


Cresceu e hoje em dia é o melhor dos amigos, tem boas notas e é um exemplo no que a cidadania e solidariedade respeita. Preocupa-se com a natureza, o ambiente, o André é quase perfeito.

É o defensor dos direitos humanos por excelência. Foi eleito delegado de turma porque respeitam a sua atitude ponderada e sentido de justiça.

Quando tem dúvidas, pergunta-me a mim, e acredita que EU sei tudo sobre tudo. Ao ponto de, quando não acerto em alguma pergunta dos programas culturais, ele achar que se enganaram nas respostas ...

Todos os dias, a caminho das aulas de manhã pergunta-me coisas do estilo - "O que é a democracia?'"...

Foi escolhido para representar a turma num concurso de poesia, e conquistou o primeiro lugar. No dia da mãe ofereceu-me um poema, que de tão fantastico me deixou sem palavras...(A mim que encontro sempre resposta para tudo ...)


"Tu és como uma flôr

mas mais bonita.

Eu gosto muito de ti

Sem ti eu não vivia..."


Para onde fores eu vou

pois sem ti eu não vivo

Nunca te vás embora

porque és um anjo lindo."


Hoje enviou-me um power point da com desenhos da Hello Kitty, para retribuir decidi postar este texto, que pode não ter grandes qualidades literárias (não tem seguramente), mas tem todo o meu coração!

O André é o meu melhor presente, passado e futuro, o melhor de mim, e o meu mais profundo e alegre azul do céu!




segunda-feira, 1 de junho de 2009

O amor escreve-se azul


"Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direcção".

Saint-Exupéry


"A medida do amor é amar sem medida."

Santo Agostinho


"O amor é o espaço e o tempo medidos pelo coração".

Marcel Proust


"É impossível compreender alguma coisa sem amar".

Goethe

sábado, 23 de maio de 2009

Fernando Pessoa





Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

à parte isso, tenho em mim

todos os sonhos do mundo.

Alvaro de Campos

Se eu te pudesse dizer
O que nunca te direi,
Tu terias que entender
Aquilo que nem eu sei.
Fernando Pessoa

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Pablo Neruda


Van Gogh - Satrry Night


Não te quero senão porque te quero,

e de querer-te a não te querer chego,

e de esperar-te quando não te espero,

passa o meu coração do frio ao fogo.


Quero-te só porque a ti te quero,

Odeio-te sem fim e odiando te rogo,

e a medida do meu amor viajante,

é não te ver e amar-te,como um cego.


Talvez consumirá a luz de Janeiro,

seu raio cruel meu coração inteiro,

roubando-me a chave do sossego,

nesta história só eu me morro,

e morrerei de amor porque te quero,

porque te quero amor,a sangue e fogo.


Pablo Neruda

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Há palavras que nos beijam


Há palavras que nos beijam

Como se tivessem boca,

Palavras de amor, de esperança,

De imenso amor, de esperança louca.


Palavras nuas que beijas

Quando a noite perde o rosto,

Palavras que se recusam

Aos muros do teu desgosto.


De repente coloridas

Entre palavras sem cor,

Esperadas, inesperadas

Como a poesia ou o amor.


(O nome de quem se ama

Letra a letra revelado

No mármore distraído,

No papel abandonado)


Palavras que nos transportam

Aonde a noite é mais forte,

Ao silêncio dos amantes

Abraçados contra a morte.


Alexandre O'Neill

domingo, 10 de maio de 2009

Faísca o gato


O Faísca entrou para a família num dia quente e dourado.

Chegou e de imediato conquistou corações. Saiu da caixinha que o transportava a medo, mas bem-educado, cumprimentou todos com um ronrom e uma festa.

Não sei se percebeu que eu o salvara de uma sorte terrível, 40 dias fechado numa jaula num país distante (em alguns países é obrigatória a quarentena nos animais), mas a verdade é que me adoptou e desde o primeiro dia que me "guarda" e protege. Mal ouve o secador, o aspirador ou a água a correr lá vem ele para se assegurar que nada de mal me acontece.

O Faísca é dengoso, tem personalidade forte e só há uma coisa que ele gosta mais do que festinhas - COMIDA!

Costumo chamar-lhe gato-cão, porque não gosta de peixe, detesta estar sozinho e não perdoa se chego a casa e não devolvo o seu amistoso cumprimento. Dorme à porta do quarto, e gosta de acordar cedo.

O Faísca é amigo, e sabe sempre quando estou triste, deixando-se ficar no meu colo até estar seguro de que passou a tristeza.

Muitas vezes me pergunto se o Faísca foi salvo por mim ou se veio para me "salvar", uma coisa é certa o Faísca tem e merece muito respeito amor e carinho.

O gato Faísca completa hoje dois anos - Parabéns Faísca.

quinta-feira, 7 de maio de 2009




Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso,
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos,
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
...
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que o homem sonha
O mundo pula e avança
como bola colorida entre
as mãos de uma criança.
António Gedeão

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Para ser grande, sê inteiro






Para ser grande, sê inteiro

Nada teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa.

Põe quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive



Ricardo Reis

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Emily Dickinson


Not In Vain

If I can stop one heart from breaking,
I shall not live in vain;
If I can ease one life the aching,
Or cool one pain,
Or help one fainting robin
Unto his nest again,
I shall not live in vain
.
Emily Dickinson


Love is anterior to life
Love is anterior to life,
Posterior to death,
Initial of creation, and
The exponent of breath.
Emily Dickinson



sábado, 25 de abril de 2009

Azul de Liberdade




Era assim na sua casa das Mónicas em Lisboa, nesse tempo antes da revolução que Sophia celebrava e esperava a Liberdade, junto de poetas, pintores, figuras da oposição, que entravam às horas mais bizarras, recitavam-se poemas, conversava-se madrugada fora, contra as horas obscuras da ditadura. E no centro de tudo, Sophia, esperava "o dia inteiro e limpo", que havia de vir.


E veio. E no primeiro 1º de Maio que os portugueses puderam celebrar juntos como nunca em liberdade, Sophia disse: "A poesia está na rua".

Celebrando o dia da Liberdade, lamento profundamente as trevas que nos tolhem a esperança, nos confinam à tristeza, ao vazio de letras e sonhos, em cores desbotadas de uma vida na ausência da alma.

Também eu espero esse dia "inteiro e limpo" a que havemos de tornar, talvez pela poesia pura e nua...




Liberdade

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria LIBERDADE.


Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Amor sem tempo





Hoje apetece-me...Ser
sentir o vento e o sonho
Entrar no teu mundo e viver

De frente para a vida
Olha-la nos olhos, assim
voltar ao principio, rendida
E encontra-me inteira em ti

Hoje quero ser a luz
o azul do mar , o azul do céu
Anjo doce que seduz
Amor sem tempo, teu e meu


Esta noite de magia
vou criar a minha história
mergulhada nos teus braços
Sem futuro nem memória




















quinta-feira, 2 de abril de 2009






Ausência

Num deserto sem água
Num país sem nome
Numa noite sem lua
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner

segunda-feira, 30 de março de 2009



Certos dias, nas horas desses dias, a saudade é tão intensa que se torna quase impossível de suportar. Os dias correm então pesados, as horas lentas, mas o pensamento corre rápido para lugares e espaços inócuos e indestrinçáveis.
Faria quaquer coisa para poder estar contigo de novo, por um dia, umas horas, ou alguns minutos...
É certo que estás gravado indelével e profundamente no meu coração, mas falta-me o teu sorriso, a tua voz, o teu abraço e os teus sábios conselhos.
Gostava de dizer-te que tinhas razão em muito do que me disseste, que se te tivesse ouvido com a atenção que me merecias... Tudo seria provavelmente melhor, diferente.
Nesta semana em que celebro mais um ano de vida, queria poder escolher voltar atrás e não ter de viver com um lugar vazio na mesa de aniversário, na vida.
Sei que estás comigo sempre, e na maior parte dos dias e horas, isso basta-me, mas não hoje, hoje queria ter-te aqui de verdade...
Tenho medo de com o tempo perder a tua imagem, perder a memória da tua voz, perder-me de mim própria, por te ter perdido a ti.
Desenhado na areia do mar, o teu coração único, sobressai das cores do mundo.
TENHO SAUDADES DO TEU CORAÇÃO.

segunda-feira, 23 de março de 2009


Azul
Observo-te sempre, com o cair da lua,

Não te posso tocar, nem ver, mas sentir,

A lua reflecte a palavra, tua,

Na promessa de um sonho, vejo-te partir.




Com magia de fada,

Acendo o escuro para te ver brilhar,

Noite quente, de alma colada

Numa dança de amor, de amar e ficar.



No milagre que é o teu olhar,

Perco-me sempre para te encontrar,

No mar azul do teu corpo,

Apetece-me ser, apetece-me ancorar.

domingo, 22 de março de 2009



Há uma hora sem tempo
Um espaço vazio, um LUGAR
Em que os meus olhos te encontram
E moro no teu OLHAR
Nesse azul tão profundo
Onde apetece FICAR
O azul celeste dos teus olhos
Ou o azul intenso do MAR
Nesse momento sem tempo
Nesse silêncio PROFUNDO
Encontro em ti, o sentir
vida e sonho, o meu MUNDO


sábado, 21 de março de 2009

Não sei quando nem como



Não sei quando nem como
Entrou em mim o sonho
Veio de vagarinho, como
As nuvens da manhã
Foi criando castelos de
Pimenta e Hortelã

Não sei quando nem como
Entrou em mim a vida
Veio de mansinho
Sozinha e meio perdida
Foi criando castelos
De areia envelhecida

Não sei quando nem como
Entrou em mim a apaixão
Veio de rompante
Com o fogo a emoção
Foi criando castelos
Em chamas de ilusão...

sexta-feira, 20 de março de 2009




Demorei uma vida para escrever estas palavras, tempo demais, ... Mas só agora com a distância das horas e dos dias, com o vinco da saudade absoluta e interminável consigo fazê-lo.


Esta é uma carta de AMOR, amor profundo e único, indescritível! Disse-te muitas vezes "Gosto muito de ti", escrevi-o outras tantas, mas nunca te olhei nos olhos e gritei AMO-TE PAI, falo-ía agora se pudesse ...


De olhos fechados, posso sentir o teu abraço, relembro cada palavra que me disseste, és tudo de bom que faço e sou. Sei que onde quer que estejas estás orgulhoso de mim ... Embora achando que posso ser ainda melhor pessoa, que posso fazer mais, mas PAI atingir o teu patamar, não é fácil!


Quero dizer-te que a batalha desigual e injusta que travaste não foi em vão, o exemplo de coragem, força, esperança, altruÍsmo e heroísmo que me deixaste vão dar-me força para ultrapassar todos os obstáculos que se me apresentarem ao longo da vida!


Desde o dia em que partiste, o mundo ficou mais pobre, e o meu mundo um pouco mais silencioso e triste, mas a verdade é que basta-me fechar os olhos para te encontrar, vives dentro de mim e está um pouco por toda a parte, mas estás acima de tudo em cada gesto simpático que recebo, em cada pessoa fantástica que conheço, em cada raio de sol, em cada pedaço de céu azul, em todos os rios, riachos e nascentes cristalinas ... Estás no meu sorriso na minha paz e no meu coração.

A poesia nasce também no AZUL


Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.


Meus olhos andam cegos de te ver!


Não és sequer razão do meu viver


Pois que tu és já toda a minha vida!...


E, olhos postos em ti, digo de rastros:


«Ah! Podem voar mundos, morrer astros,


Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...»




Florbela Espanca